sábado, 27 de outubro de 2007

Lengalenga para encurtar a eternidade


Há uma eternidade
(uma semana)
que estás longe
- Estou na Madeira, avô
a suavizar à mamã
- Estou com a mamã e a avó Tita
as eternidades da tua ausência.
Agora é a nossa vez de contarmos os dias desde que te foste embora, um dois, três, quatro, cinco, seis
ou ao contrário, os dias que faltam até voltares, doze, onze, dez, nove, oito, sete.
Tu sabes que de certo modo estás sempre connosco
(dói-nos a tua falta e essa dor é uma forma de estar contigo)
e nós sabemos também que nos tens ao pé de ti
- Quero dormir em casa da avó São
mesmo com um mar pelo meio.
Mas apesar de tudo há um mar pelo meio, há uma eternidade que estás
- Estou na Madeira, avô
de modo que, para encurtar um pouco essa eternidade, vou sentar-te nas minhas pernas
(já percebi, preferes o colo da avó, estava só a tentar)
sentas-te nas pernas da avó, aqui no escritório, o sítio das histórias e das músicas, para ouvires uma lengalenga que fiz para ti.

LENGALENGA DOS FRUTOS

Morango vermelho
quem te corou?
Foi o sol
o solzinho
que aqui passou.

Cereja rosada
quem te rosou?
Foi o ar quentinho
da Primavera
que me embalou.

Amora madura
quem te escureceu?
Foi a mão do sol
que todo o Verão
me aqueceu.

Romã cor de fogo
quem te afogueou?
Foi a luz
a luz de Setembro
que me beijou.


Avô Jorge

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